A chegada (e a barata)

Quando dei as duas voltas na fechadura da porta do nº102 sabia que minha vida ia mudar. Entrei. Pisei com o pé direito, e com o esquerdo matei uma barata que passava apressada em se esconder embaixo do sofá. (Falei pro pessoal da em casa. Só a barata morta e o sofimobiliária tirar o sofá). Sabia que, pra minha vida mudar, tinha antes que fazer aquela faxina. Minhas coisas – poucas coisas – chegariam mais tarde num caminhão fretado. Passei o primeiro aperto da minha vida. Cadê minha mudança? Eles ligam: “olha, teve um probleminha aqui”. Nem queiram saber o resto. Fiquei dois dias sem ter nadaá, que nem era meu.

Sei que tem gente que sabe como é morar sozinho. Eu não faço a mínima idéia. Espero aprender, é questão de sobrevivência. Não adianta minha mãe falar: “roupa branca com branca”, “olha o gás ligado”, “arrume a cama e o armário”, “não faça festinhas”, e por aí vai...mas tudo que entrava por um ouvido e saía por outro agora se materializa na minha frente. Tô ferrado!

Pra me sentir uma pessoa melhor, e também numa forma de pedir ajuda, criei o blog. Aos poucos escrevo meus perrengues, minhas dúvidas e sucessos na arte de morar sozinho. Aos poucos aprendo a lidar com a solidão, vejo que ser só pode ser divertido. E será divertido. Pelo menos pra mim, pelo menos aqui. Enquanto eu estiver só no 102, você vai acompanhar tudo. Mas, por enquanto da porta pra fora, porque ainda tenho que arrumar a casa. E tirar a barata morta do chão.